Cara Gente Branca: compartilhar essa resenha não te faz menos racista
Nem fingir que gostou da série significa que você sabe o que as pessoas negras passam.
Porque os coleguinhas que acreditam em racismo
contra brancos é que não iam postar algo
Após alguns contratempos finalmente assisti a série Cara Gente Branca, que adapta o filme homônimo, de 2014, narra a história de um grupo de alunos da universidade Winchester em um cotidiano de constante tensão racial, sempre negada pelos alunos brancos e pela administração da instituição.
Os ânimos se exaltam quando em resposta ao programa de rádio "Cara Gente Branca", apresentado pela aluna negra Sam White e que tem como tema principal debater essas relações raciais na universidade um grupo de alunos brancos decide realizar a festa de Halloween "Cara Gente Negra", onde deveriam fantasiados de negros. Isso inicia um debate sobre blackface, racismo, discriminação racial e desigualdades raciais. É interessante ver como os personagens brancos usam os mesmos "argumentos baseados no senso crítico" que se vê aqui no Brasil. Imagine se realmente existisse um sistema de racismo estrutural pra formar os discursos das pessoas pra naturalizar a existência de assimetrias.
A abordagem da festa é uma das principais (embora não única) diferença entre a série e o filme que lhe deu origem, pois enquanto no filme a festa é o clímax da trama, sendo o desenrolar da história a tentativa de impedi-la, na série a festa acontece logo no primeiro dos 10 episódios e é apenas mais um elemento do cotidiano conflituoso da universidade. Ajuda a construir a ideia de que o racismo é uma constante na vida das pessoas negras, e que apesar do "choque" dos brancos, manifestações graves de discriminação acontecem todos os dias.
Essa diferença de abordagem na trama permite que vários personagens sejam mais desenvolvidos na série, inclusive tendo novos conflitos que demonstram como essas complexas relações raciais interferem nas trajetórias e na formação da identidade das pessoas negras e brancas, independentemente de seu gênero, posição sócio-econômica, vinculação ideológica, ou quaisquer outras especificidades.
Sim, se depois de todo o chorume por ventura alguma pessoa branca for assistir a série verá que, apesar da pouca presença na tela as pérolas faladas pelos brancos demonstram como a confortável situação de ser considerado o ideal de ser humano influi na formação da identidade. Ao ponto do único branco do rolê que acha que entende a galera e que se considera contribuindo para a causa quase causar a morte de um amiguinho por não perceber que, na prática, brancos e negros vivem em mundos diferentes, e aquele que é a proteção do branco é o principal matador de negros.
A série deixa toda a oportunidade para novas temporadas, pois deixa questões em aberto, como é a própria vida de verdade de quem luta contra um sistema secular de violência, segregação, marginalização, desumanização, inferiorização, demonização e cerceamento de direitos. A temporada finaliza apenas com o fim de um dia e a necessidade de descansar para lutar o resto de suas vidas. Como os grupos socialmente marginalizados têm que fazer.
Os ânimos se exaltam quando em resposta ao programa de rádio "Cara Gente Branca", apresentado pela aluna negra Sam White e que tem como tema principal debater essas relações raciais na universidade um grupo de alunos brancos decide realizar a festa de Halloween "Cara Gente Negra", onde deveriam fantasiados de negros. Isso inicia um debate sobre blackface, racismo, discriminação racial e desigualdades raciais. É interessante ver como os personagens brancos usam os mesmos "argumentos baseados no senso crítico" que se vê aqui no Brasil. Imagine se realmente existisse um sistema de racismo estrutural pra formar os discursos das pessoas pra naturalizar a existência de assimetrias.
A abordagem da festa é uma das principais (embora não única) diferença entre a série e o filme que lhe deu origem, pois enquanto no filme a festa é o clímax da trama, sendo o desenrolar da história a tentativa de impedi-la, na série a festa acontece logo no primeiro dos 10 episódios e é apenas mais um elemento do cotidiano conflituoso da universidade. Ajuda a construir a ideia de que o racismo é uma constante na vida das pessoas negras, e que apesar do "choque" dos brancos, manifestações graves de discriminação acontecem todos os dias.
Essa diferença de abordagem na trama permite que vários personagens sejam mais desenvolvidos na série, inclusive tendo novos conflitos que demonstram como essas complexas relações raciais interferem nas trajetórias e na formação da identidade das pessoas negras e brancas, independentemente de seu gênero, posição sócio-econômica, vinculação ideológica, ou quaisquer outras especificidades.
Sim, se depois de todo o chorume por ventura alguma pessoa branca for assistir a série verá que, apesar da pouca presença na tela as pérolas faladas pelos brancos demonstram como a confortável situação de ser considerado o ideal de ser humano influi na formação da identidade. Ao ponto do único branco do rolê que acha que entende a galera e que se considera contribuindo para a causa quase causar a morte de um amiguinho por não perceber que, na prática, brancos e negros vivem em mundos diferentes, e aquele que é a proteção do branco é o principal matador de negros.
A série deixa toda a oportunidade para novas temporadas, pois deixa questões em aberto, como é a própria vida de verdade de quem luta contra um sistema secular de violência, segregação, marginalização, desumanização, inferiorização, demonização e cerceamento de direitos. A temporada finaliza apenas com o fim de um dia e a necessidade de descansar para lutar o resto de suas vidas. Como os grupos socialmente marginalizados têm que fazer.
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